segunda-feira, 23 de maio de 2011

Largo da Carioca

Ah! Já sei porque não escrevo mais...
É que me perco nessa vista linda do 22º andar do centro da cidade.
E paro.

Sim sim, me perco na janela... por alguns segundos... olhando lá fora.
Na verdade, são os prédios de arquitetura moderna constratando com o Convento de Sto. Antonio...
Os carros passando com o farol já aceso no fim da tarde... As fileiras de carros no sinal...
As pessoas passando de lá pra cá de cá pra lá... Pra onde será que estão indo?

Será que tudo isso percebe a observadora concentrada que sou?
Será que tudo isso indaga sobre o meu foco na poesia desbaratada do centro?

Não, a poesia não está nem aí... As coisas estão lá fora, existindo, acontecendo.
os prédios os carros as pessoas os sinais... todos seguem seus caminhos...
Passam todos apressados e, se olham para cima, apenas olham sem ver.
Afinal, é necessário enxergar já tanta coisa:
o carro para atravessar a rua
o pivete
a moto
o camelô mais barato
o número do prédio
a borboleta amarela
o número do PIS
a xerox do documento
o projeto inacabado
o exame de sangue
o currículo
a hora da reunião
a saia rodada da mulher que passa, enfim
tanta coisa...

E eu ali por segundos ou talvez até um ou dois ou três minutos...
parada apenas... sem seguir caminho algum... cega de tanta coisa...
Só vendo esse tantinho de poesia passando por mim... olhando só o desnecessário...

Assim, acabo passando o dia esquecida de escrever poesia.
A poesia já existe. E abro a janela.

3 comentários:

  1. Assim que inaugurei meu blog, ficava fazendo um esforço tremendo para escrever algo que pudesse ser considerado ao menos razoável. Mas depois de algum tempo, percebi que não precisava elaborar textos complexos e criar personagens do zero.
    A resposta estava ali o tempo todo... os personagens, as críticas, a poesia...
    As coisas movem-se ao nosso redor e nós somos levados por ela.
    Seu texto é uma prova disso...
    Parabéns.

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